quarta-feira, 30 de março de 2011

Capivara

A CAPIVARA 
 
    
      Hoje existe uma preocupação mundial com o meio ambiente e os seres que aqui habitam. Os órgãos de defesa: Ibama, Greenpeace e muitas outras ongs esparramadas pelo mundo e aqui nesta terra dos sabiás não seria diferente.  Não por menos: o descaso do  homem  com a natureza é  de doer o coração de todos  nós.
 
     Um fato interessante aconteceu comigo, quando descia para pescar no rio Paraná, já divisa com o Mato Grosso do Sul, pesca esportiva - é claro - (pescar e soltar) e pela rodovia Marechal Rondon qual não foi a minha surpresa? Atropelei uma capivara! Ainda que tentasse evitar o acidente foi impossível, ela no meio da pista não sabia se ia ou voltava; eu, da mesma forma inseguro, arrisquei um lado da rodovia e, por azar, pensamos da mesma forma. Lá estava o bicho atropelado e agonizando no asfalto. No primeiro momento tratei de olhar a frente do carro e até partir para a minha pescaria, porém, percebi que o bichinho, ainda vivo, me olhava aflito e não resisti àquele pedido de socorro. Tratei de socorrer a capivara, que se esvaía em sangue e a coloquei no meu carro até a cidade próxima: Andradina.
 
     Lá chegando, procurei imediatamente um veterinário, que no final de semana me cobrou o dobro da consulta. Não importava, estava disposto a salvar o animal e aliviar a consciência. A sua perninha trazeira foi quebrada, além de um corte profundo na coxa. Tudo arrumadinho, o bichinho ganhou uma tala e alguns pontos. Passado o susto meu e dela me perguntei: Onde deixarei a capivara? Afinal, estaria indo pescar e o dia era convidativo com céu de brigadeiro! Fazer tudo aquilo e deixá-la morrer? Retornei para minha casa com o bichinho!

     Os dias correram e ela até ganhou um nome: "Tatá". Era a alegria da casa e de meus filhos, que a tratavam com muito carinho. Recuperada, andava pelo quintal a nos seguir e a troco de uma espiga de milho e algum carinho deitava aos nossos pés, preguiçosamente. Foi um tempo bom...
 
     Uma convivência pacífica e coberta de muito carinho, até que à nossa porta bateu o Ibama. Recebi um processo absurdo e uma multa terrível, ainda assim, tentei por vias judicias reaver o bichinho em nome dos filhos, que choravam pela sua ausência. Inútil! "Tatá" foi levada para o zoológico municipal e, em uma das visitas, não foi difícil reconhecê-la: mancava levemente em uma das pernas. O mais incrível é que ela se aproximou da grade e nos pedia carinho. Reconhecia os meninos e a mim e a cena me deixou bastante abatido. Afinal, era a "Tatá", uma capivara especial. Daí, compreendi o choro de dona Eugênia, quando seu papagaio foi levado depois de quinze anos de convivência!
 
     Restou-nos um vazio estranho na alma e uma dor fininha no coração. Ao longo do tempo, não mais encontramos "Tatá" no zoológico, fora solta em seu habitat natural; confesso, tive um certo alívio. Quem sabe estaria ela conversando com o papagaio de dona Eugênia? Ambos soltos no pantanal, livres, leves...

     Não demorou para uma nova pescaria. Desta vez levei os meninos e fomos premiados com um bando de capivaras no banhado. Uma delas, sei lá, parecia nos olhar atentamente até jogar-se nas águas.  O Dênis gritou: É a "Tatá", papai! Fingi ser, respeitando a alegria do menino, que ainda trazia nos olhos uma tímida lágrima, enquanto no céu passava um bando de papagaios. Cada qual em seu lugar, o Ibama estava certo! Viva o Greenpeace! Poderiam, pelo menos, nos acolher na saudade!
 
José Geraldo Martinez
 
 
 
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